Em A construção do idiota: o processo de idiossubjetivação, Rubens Casara demonstra que o atual estágio do capitalismo reorganizou a personalidade do indivíduo, alterando sua relação com o conhecimento, com o tempo, com a identidade, com a cultura e com o projeto da modernidade.
Vivemos um período histórico notável pela valorização social da ignorância, o tempo do empobrecimento subjetivo. Obstáculo aos negócios e ao exercício do poder, o pensamento reflexivo é agora demonizado e a simplificação do ato de pensar passa a ser imperativa, funcional que é à reprodução ilimitada do modo de vida neoliberal.
Se o ataque ao pensamento não é excepcional na história, é certo que sob a hegemonia neoliberal se acentua; a racionalidade passa a se identificar com a realização de cálculos que visam apenas o lucro e a obtenção de vantagens pessoais. Ideias fundadas na razão objetiva, como justiça, igualdade, democracia e felicidade, por exemplo, sucumbem diante do horizonte delimitado por quem detém o poder econômico e o egoísmo se torna vetor interpretativo e mandamento nuclear por excelência.