Este livro é uma verdadeira máquina conceitual e analítica de guerra contra os clichês imagéticos, discursivos, mentais, ideológicos, imaginários e sonoros do sertão. Desde suas primeiras páginas, Antônio Fernando de Araújo Sá historiciza e desestabiliza as noções que transformaram o sertão em um não-lugar, em um espaço incerto, inculto, selvagem e anacrônico em torno das quais se construiu parte expressiva da mitologia da nação brasileira. O sertão não encontra mais sua dignidade e relevância como objeto de estudo e investigação na medida em que se presta à narrativa positivista da construção da nação ou em que se constitui como espaço simbólico privilegiado para a definição da nacionalidade.
Por essa razão, este livro inscreve-se no campo das historiografias não-euclidianas do sertão. Essas historiografias não se caracterizam simplesmente por negar a concepção de sertão de Euclides da Cunha, mas antes por valorizarem e se interessarem por novas representações, concepções, imagens, memórias, narrativas, saberes, manifestações, iconografias, vozes e experiências do sertão que, estas, elas sim dizem não ao sertão euclidiano.
Aí reside toda a importância do trabalho de Antônio Fernando de Araújo Sá: explicitar com toda clareza os contornos desse campo de estudos que não é exclusivamente historiográfico, mas aberto à pluralidade de ciências, linguagens e artes voltadas às heterologias. Daí a importância, para o autor deste livro, de se escrever a história a contrapelo e de da