O próprio Carl Gustav Jung (1875-1961) advertia aos candidatos a biografá-lo - ele é um fenômeno um tanto complicado, que dificilmente seria compreendido por um único estudioso isoladamente. Sugeria um comitê - nunca estabelecido - que somasse estudos biográficos parciais, oriundos de campos diversos como a medicina, a filosofia, a religião, a mitologia e a arte. Nessa mesma linha, o biólogo Adolf Portmann disse que a trajetória de Jung só seria inteligível pelo esforço conjunto de diversos trabalhos de vulcanologia. Por aí se vê o tamanho da ousadia da jornalista e escritora norte-americana Deirdre Bair ao tomar o psicólogo suíço, em todas as erupções, como tema de seu Jung, uma biografia. Lançado originalmente em novembro de 2003, o livro é fruto de cerca de oito anos de pesquisa intensa, lidando com farta e por vezes inédita documentação. Com seu foco objetivo e equilibrado, consegue fugir tanto da bajulação hagiográfica quanto do rancor de tantos estudos do gênero, que não conseguem captar Jung para além das distorções movidas pela ingenuidade ou oportunismo.