Imagine acordar um dia e perceber que você perdeu a memória. Não sabe onde está, como se chama, quem é sua mulher (ou marido), se é casado ou não, quem são - se é que existem - seus filhos... É o que acontece com Yambo, o protagonista do novo romance de Umberto Eco, A Misteriosa Chama da Rainha Loana. Yambo lembra-se de Waterloo, de como se dirige um automóvel e se escova os dentes, mas não lembra quem ele é. Permanece a memória semântica (sabe tudo que leu sobre Napoleão ou Julio César e consegue citar trechos inteiros da Divina Comédia) e automática, mas perdeu-se a memória afetiva, o que constitui seu ser e sua própria história. Depois do coma que causou a amnésia, por recomendação médica, Yambo viaja para a casa de campo que fora de seu avô - um colecionador de tralhas, quinquilharias, jornais e revistas antigas -, nas montanhas do Piemonte, onde passou grande parte de sua infância e adolescência.