Sala de armas, de Nélida Piñon, não é um paiol ou depósito que abriga baionetas, fuzis, metralhadoras, granadas ou qualquer outro armamento de guerra. O poder bélico de Nélida é a palavra, e nesta Sala está sua artilharia pesada, que envolve o amor, o poder, a crueldade, a violência, a tristeza, a poesia, o grotesco, o triunfo da mulher, a ternura, a alegria, o erótico, os conflitos humanos.
É nesse ambiente de força centrípeta que a escritora convoca o leitor a dialogar e duelar consigo. Nas dezesseis histórias aqui reunidas, Nélida utiliza com maestria sua linguagem perturbadora de condensada beleza que atinge com rara precisão o coração de quem enfrenta suas linhas.
Nesses contos que fascinam, temos a promiscuidade e a redenção reunidas; o sultão que, diante da escravidão do poder, se debate com a insuportável liberdade do pássaro; as metamorfoses de Eleusis, que “tinha o hábito de morrer”; a filha única que rasteja como cobra. E Nélida impacta o leitor quando o texto busca subverter valores, tradições, convenções, e não obedece às pautas sociais, como no conto “Cortejo do Divino”, em que a exaltação do amor desafia a ira de toda a cidade e o homem termina por arrancar os próprios olhos com um garfo.
O conto “A colheita”, por sua vez, é considerado por Miguel Sanches Neto “uma das obras-primas da literatura de língua portuguesa”. E temos ainda a poética de “Luz”: “Luz era de bronze.